Julizar Dantas


A Carta de Ottawa (Canadá, 1986) conceituou promoção da saúde como o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo.

A Organização Mundial da Saúde define a qualidade de vida como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e no sistema de valores nos quais vive e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e interesses. A qualidade de vida abrange variadas condições que podem afetar a vida das pessoas, incluindo a sua condição de saúde. Refere-se a uma visão mais holística e humanística das relações entre as pessoas e o mundo que as cerca, no sentido de valorizar parâmetros mais amplos que a prevenção das doenças, o controle de sintomas, o aumento da expectativa de vida ou a diminuição da mortalidade (The WHOQOL Group, 1995).

Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. Um aspecto fundamental é a participação concreta da comunidade na fixação de prioridades, na tomada de decisões e na elaboração das estratégias de controle dos fatores determinantes da saúde. A Promoção da Saúde não é responsabilidade exclusiva do setor Saúde e vai além de cuidados básicos e preventivos e de um estilo de vida saudável (WHO, 1986).

A promoção da saúde no trabalho se sustenta em dois pilares. O primeiro é o estilo de vida, que é um conjunto de ações habituais, refletindo as atitudes, os valores e as oportunidades na vida das pessoas. O estilo de vida saudável é a escolha de um conjunto de ações habituais que favorecem o bem-estar, a saúde e a melhoria da qualidade de vida. São bons exemplos, o estabelecimento de relações interpessoais assertivas, a capacidade de encarar o presente e o futuro de uma forma positiva, a adoção do estilo de vida ativo e a alimentação saudável (The WHOQOL Group, 1995).

A proposta da “estratégia global da Organização Mundial de Saúde para promoção da alimentação saudável, atividade física e saúde (2004)” recomenda a formulação e a execução de linhas de ação efetivas para reduzir substancialmente as mortes e as doenças em todo o mundo. O objetivo principal é a redução dos fatores de risco para as doenças crônicas não transmissíveis – DCNT. A estratégia inclui ações de saúde pública, promoção da saúde e medidas para aumentar a atenção e o conhecimento sobre nutrição e atividade física (WHO, 2004). Recomenda a adoção do estilo de vida ativo, que compreende a incorporação da prática regular de atividade física nas ações do cotidiano das pessoas. As recomendações específicas sobre a alimentação saudável buscam o equilíbrio energético para o controle de peso saudável.

O segundo pilar da promoção da saúde no trabalho visa à construção de ambientes organizacionais, incluindo a possibilidade de interagir, participar, aprender, questionar, criar, empreender, transformar e produzir o trabalho saudável. Trata-se do compromisso com a melhoria contínua das condições de saúde no trabalho, envolvendo a efetiva participação dos trabalhadores em todas as fases do processo produtivo.

Este pilar inclui a intervenção sobre os fatores de risco ambientais, econômicos, organizacionais, psicossociais, biológicos, de natureza individual e do meio ambiente em geral que colocam a saúde em risco. Incorpora os saberes e os valores dos processos de gestão, saúde, segurança, meio ambiente, ergonomia e da higiene ocupacional, contribuindo para a transformação organizacional e promovendo uma resposta positiva para a saúde e a qualidade da vida dos trabalhadores. Dias e Mendes (2002) criticam a excessiva ênfase dada ao estilo de vida dos indivíduos nos processos de promoção da saúde no trabalho.

O Simpósio Statement on Healthy Workplaces da Quarta Conferência Internacional de Promoção da Saúde (WHO, 1997) enfatizou a importância dos ambientes de trabalho na promoção da saúde dos trabalhadores, de suas famílias, da comunidade e da sociedade em geral. Concluiu que não há escassez de trabalho, apenas de emprego. Reconheceu a necessidade de reconsiderar novos valores e combinar o desenvolvimento econômico com o desenvolvimento humano. Assinalou a importância de promover e proteger a saúde das pessoas empregadas e desempregadas, a comunidade circunvizinha e a sociedade em geral.

A Declaração de Luxemburgo (European Network for Workplace Health Promotion, 2007) destaca que a promoção da saúde no trabalho pode ser obtida pela execução de algumas estratégias:

·         melhorar a organização e o ambiente de trabalho;

·         promover a participação efetiva e concreta dos atores envolvidos; e

·         incentivar o desenvolvimento pessoal e profissional dos trabalhadores.

A Carta de Bangkok (WHO, 2007) propõe entre os requisitos para boas práticas corporativas:

·         investir em ambientes de trabalho seguros e saudáveis;

·         assegurar que os processos produtivos, os produtos e as estratégias de marketing não

        prejudiquem a saúde; e

·         ampliar as ações de responsabilidade social.

Em síntese, a promoção da saúde no trabalho inclui a construção de ambientes organizacionais e estilo de vida adaptados às necessidades de ser humano, saudável e produtivo.