Julizar Dantas

A pericardite aguda manifesta-se com dor torácica, dispneia, fadiga, atrito pericárdico e alterações eletrocardiográficas com supradesnivelamento do segmento ST. É uma síndrome secundária ao processo inflamatório do pericárdio e está associada a diversas causas: infecções virais (Coxsackie B, Echo vírus tipo 8, o vírus da caxumba, a influenza, a mononucleose infecciosa, a poliomielite, a varicela e a vacina contra hepatite B), bacterianas e fúngicas, infarto do miocárdio, pericardiotomia, uremia, neoplasia, mixedema, doenças inflamatórias e autoimunes, radiações, drogas e trauma. A pericardite pode originar o derrame pericárdico e a pericardite constritiva. A anamnese, o exame físico, o eletrocardiograma, o ecodopplercardiograma, a tomografia computadorizada de alta resolução e os exames laboratoriais geralmente confirmam o diagnóstico (Zanettini, M; Zanettini, J. O.; Zanettini, J. P., 2004).

A pericardite tuberculosa, viral ou fúngica pode ocorrer após a exposição ocupacional aos agentes biológicos em questão, especialmente em trabalhadores da área de saúde. A pericardite e o edema pulmonar não cardiogênico foram associados à inalação de fumos provenientes da combustão de teflon (Haugtomt; Haerem, 1989).

A exposição ocupacional crônica às fibras respiráveis de asbesto (amianto) pode originar uma reação fibrótica dos tecidos mesoteliais, incluindo a formação de placas fibróticas na pleura, no peritônio, no pericárdio e no epicárdio. Presumivelmente, a patogênese da fibrose pericárdica é semelhante à das fibroses pleural e pulmonar. A presença das fibras de amianto nos tecidos promove o afluxo de neutrófilos e macrófagos que geram enzimas hidrolíticas, quimiotaxinas, citocinas, fatores de crescimento, radicais livres e a ativação dos fibroblastos. Esta cascata de eventos produz a fibrose progressiva.

As placas fibróticas do pericárdio podem permanecer assintomáticas ou podem desencadear a constrição pericárdica e suas manifestações clínicas principais: a dispneia, o edema periférico, a congestão hepática e a ascite. A radiografia do tórax pode mostrar calcificações e, na presença de cardiomegalia, sugere a possibilidade de derrame pericárdico. A tomografia computadorizada de alta resolução é o método mais eficaz na detecção das calcificações e dos espessamentos pericárdicos.

Um quadro clínico compatível com a pericardite e a calcificação pericárdica, associado com a história de exposição ocupacional, excluídos os diagnósticos diferenciais, é sugestivo de pericardite relacionada ao asbesto (American Thoracic Society ‒ ATS, 2004). A pericardite relacionada ao asbesto é rara. Foram relatados 12 casos no período de 1988 a 2008, sendo a forma constritiva observada em 58% deles. Todos os casos estavam associados com comprometimento pleural concomitante (Abejie et al., 2008). Há relato de caso de pericardite aguda após exposição ocupacional durante aplicação de herbicida MCPA (C9H9ClO3) (Alex et al., 1974 apud Hayes, W J Jr; Laws E R Jr, 1991).