Julizar Dantas

É um instrumento de avaliação

do risco cardiometabólico.


            A síndrome metabólica é uma entidade complexa formada por um conjunto de fatores de risco associados que aumenta a probabilidade de desenvolver diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares. Caracteriza-se pela deposição central de gordura (obesidade abdominal) associada à resistência à insulina, alterações do colesterol-HDL, triglicérides e pressão arterial. O quadro seguinte apresenta os requisitos necessários para o diagnóstico.

Quadro 7 - Componentes da síndrome metabólica (NCEP-ATP III).1

            A importância epidemiológica dessa síndrome que aglutina alterações limítrofes desses fatores de risco reflete-se no aumento da mortalidade geral e cardiovascular. Em nossa experiência constatamos o diagnóstico de síndrome metabólica em 12,0% dos homens e 6,5% das mulheres, durante o exame médico periódico na indústria do refino do petróleo. Questionada por alguns cientistas, o mérito do diagnóstico da síndrome metabólica está no alerta proporcionado pelo conjunto de alterações que, na maioria das vezes, poderia ser menosprezado pelos médicos e seus clientes.

            A Organização Mundial de Saúde recomenda a avaliação da resistência à insulina ou do distúrbio do metabolismo da glicose como um princípio básico para o diagnóstico sindrômico. Apesar de mais confiável, a complexidade do método dificulta a sua utilização como ferramenta de saúde pública.

            A constatação de alterações da tolerância à glicose pode ser feita pela dosagem da glicemia em jejum. O valor normal varia entre 60 a 99 mg/dL.2 O valor atribuído para o critério de síndrome metabólica é a glicemia ≥ 110 mg/dL. A constatação de intolerância à glicose e o diagnóstico prévio de diabetes também preenchem as exigências.

            A I Diretriz Brasileira de Síndrome Metabólica reforça a escolha da circunferência abdominal, medida no meio da distância entre a crista ilíaca e o rebordo costal inferior, como o índice antropométrico mais representativo da gordura intra-abdominal. Os valores recomendados para caracterização da síndrome são: > 102 cm nos homens e > 88 cm nas mulheres.1

            A alteração da pressão arterial é um dos componentes da síndrome metabólica. O critério exige a constatação de elevação da pressão sistólica ≥ 130 mmHg ou diastólica ≥ 85 mmHg, confirmada em duas ou mais medidas durante a mesma consulta, na posição sentada, após cinco minutos de repouso, em duas ou mais ocasiões distintas. O uso de medicação anti-hipertensiva também atende ao critério.

            Os dois últimos componentes são as alterações de triglicérides (≥ 150 mg/dL) e colesterol-HDL (< 40 mg/dL nos homens e < 50 mg/dL nas mulheres). O uso de medicamentos para o controle das dislipidemias preenche os critérios específicos.

            Em 2006, a Federação Internacional de Diabetes – IDF estabeleceu novos critérios para a síndrome metabólica. O diagnóstico requer a presença de obesidade abdominal (condição essencial) em combinação com pelo menos dois dos outros quatro componentes.3

            Critérios da IDF:

            Ainda há controvérsia sobre a utilidade do diagnóstico da síndrome metabólica. Alguns pesquisadores argumentam que existem outros instrumentos mais confiáveis para a avaliação do risco de doença cardiovascular. O principal deles é o escore de risco cardiovascular de Framingham que, também, recebe críticas. Os elementos necessários para o seu cálculo são: diabetes, fumo, colesterol total ou LDL, colesterol HDL e pressão arterial. A síndrome metabólica apresenta alguma superposição com o escore de Framingham. A pressão arterial e o colesterol HDL são fatores comuns. A glicemia em jejum alterada ou o diagnóstico de diabetes são componentes importantes na avaliação do risco. Os níveis elevados de triglicérides e a circunferência abdominal estão incluídos na caracterização da síndrome metabólica, mas não são considerados no cálculo do escore de Framingham.

            Acreditamos que os dois instrumentos são complementares e úteis na avaliação do risco cardiometabólico: um conjunto de fatores de risco modificáveis e diversos marcadores presentes em alguns indivíduos com risco elevado de doença cardiovascular. As críticas são parcialmente justificadas. Fatores emergentes (resistência à insulina, microalbuminúria, proteína C reativa e alterações da função endotelial, entre outros) não são contemplados. Há espaço para evolução dos critérios e estudos de validade dos instrumentos.

            Em geral a Síndrome Metabólica está associada a um risco relativo de duas vezes (variando de 1,5 até 2,2) maior para doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e mortalidade cardiovascular. O mecanismo fisiopatológico pelo qual a Síndrome Metabólica aumenta o risco cardiovascular ainda está em debate, porém há forte evidência de que a resistência insulínica seja o fator principal. Há uma forte associação entre a Síndrome Metabólica e o desenvolvimento de diabetes, que se intensifica quanto maior o número de componentes da Síndrome Metabólica presente. O risco relativo de desenvolvimento de diabetes é 2,1 a 3,6 vezes, dependendo dos critérios diagnósticos.4

            A obesidade abdominal e a vida sedentária são os principais fatores de risco para o desenvolvimento da síndrome metabólica. A adoção do estilo de vida saudável é a chave do sucesso na prevenção e tratamento. A atividade física regular e uma dieta equilibrada promovem a redução expressiva da obesidade abdominal e da gordura visceral. Contribuem para a melhoria da sensibilidade à insulina e tolerância à glicose. Reduzem a pressão arterial e os níveis de triglicérides e aumentam o colesterol-HDL.5

            As principais recomendações para a prevenção e o tratamento da síndrome metabólica são:

  • adotar uma alimentação saudável;
  • buscar o equilíbrio energético para o controle de peso;
  • os cereais integrais, as frutas, os legumes e as verduras e as leguminosas, no seu conjunto, devem ser as principais fontes de energia diária da alimentação;
  • limitar a ingestão energética procedente das gorduras e substituir as gorduras saturadas e transsaturadas por gorduras insaturadas;
  • aumentar o consumo de frutas, legumes e verduras (mínimo de cinco porções ou 400 gramas diário);
  • limitar o consumo do álcool, a ingestão de açúcar simples e sal de todas as procedências;
  • escolher os alimentos mais saudáveis, lendo as informações nutricionais dos rótulos;
  • Para o sucesso do tratamento dietético, deve-se manter mudanças na alimentação por toda a vida. Dietas muito restritivas, artificiais e rígidas não são sustentáveis; 6
  • Qualquer dieta prescrita para reduzir peso tem de considerar, além da quantidade de calorias, as preferências alimentares do paciente, o aspecto financeiro, o estilo de vida e o requerimento energético para a manutenção da saúde.6
  • O sucesso de qualquer dieta depende de um balanço energético negativo; 6
  • manter o estilo de vida ativo. Esta prática deve estar incluída dentro da rotina diária das pessoas, de forma a realizar pelo menos 30 minutos de atividade física contínua ou acumulada, moderada, em pelo menos 5 (cinco) dias na semana.


REFERÊNCIAS:

1. I DIRETRIZ BRASILEIRA DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA. Revista da Sociedade Brasileira de Hipertensão, São Paulo, v.7, n.4, 2004.

2. THE EXPERT COMMITEE ON THE DIAGNOSIS AND CLASSIFICATION OF DIABETES MELLITUS. Follow-up Report on The Diagnosis of Diabetes Mellitus. Diabetes Care,[s.l] , v.11, n.26, p.3160-3167, 2003.

3. INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION. The IDF consensus worldwide definition of the metabolic syndrome. 2006. Disponível em: http://www.idf.org/webdata/docs/IDF_Meta_def_final.pdf. Acesso em: 30 jun 2014.

4. SIMÃO AF, PRÉCOMA DB, ANDRADE JP, CORREA FILHO H, SARAIVA JFK, OLIVEIRA GMM et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Brasileira de Prevenção Cardiovascular. Arq Bras Cardiol. 2013: 101 (6Supl.2): 1-63.

5. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA. Síndrome Metabólica: Tratamento Não Farmacológico para Redução do Risco Cardiovascular. 2006. Disponível em: http://www.projetodiretrizes.org.br/5_volume/38-SindrMeta.pdf Acesso em: 28 jun 2014.

6. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Diretrizes brasileiras de obesidade 2009/2010 / ABESO - Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. - 3.ed. - Itapevi, SP : AC Farmacêutica, 2009. Disponível em: http://www.abeso.org.br/pdf/diretrizes_brasileiras_obesidade_2009_2010_1.pdf. Acesso em 30 jun 2014.