PREFÁCIO

 

            Distinguido pelo convite do Dr. Julizar Dantas, para prefaciar seu novo livro “Trabalho & Coração Saudáveis: Aspectos Psicossociais. Impactos na Promoção da Saúde”, eu pude ter o acesso privilegiado e antecipado aos “originais” ou ao “manuscrito” – como se dizia antigamente -, tanto para poder prefaciar conteúdo conhecido, quanto para poder me instruir sobre a matéria.

            Atualmente os “manuscritos” costumam ser escritos já não à mão, mas digitados, isto é, com os dedos. No caso deste livro, os “originais” são originais, mesmo, e seu autor escreveu com as mãos, com os dedos e, sobretudo, com o coração. Combina com sua vocação de cardiologista e poeta, além de excelente médico do trabalho.

            A primeira impressão que o título do livro sugeria era a preocupação pela saúde do coração. Perguntei-me sobre o “resto” do corpo, para além do coração, lembrando-me da tendência de cada especialista de achar que a sua especialidade ou sua área de atuação é a mais importante de todas, e sobre todas as outras se destaca. De fato, alguns especialistas vêem apenas o “seu” órgão: o olho, a pele, o pulmão, os ossos e articulações de seus pacientes. Paciência.

            Felizmente, não é o caso nem do autor nem do livro. A sua concepção de coração vem de sua concepção etimológica, como sede, centro da alma, da inteligência, da sensibilidade. Alguns entendem que a palavra viria do aumentativo de cor; outros que a palavra viria da junção de cor + ação. Daí, palavras derivadas como coragem, encorajamento, e outras. Anatomistas e fisiologistas tentaram até achar a “sede da alma”, que parece ser no septo interventricular. Neurofisiologistas apostam que a sede da alma estaria na pineal, ou “glândula” pineal, apenas um resquício na espécie humana, e que em outras espécies é até relativamente grande e importante.

            Neste sentido, o autor deixou de se ater à Anatomia ou à Cardiologia, para ver o coração tal como o vê a Bíblia: “sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Provérbios 4:23). Certamente é com este sentido que o Dr. Julizar Dantas prioriza a saúde do coração, tanto no seu sentido cardiológico, quanto no sentido da integralidade do ser humano. Da integralidade da saúde, nas suas dimensões física, mental e social. Saúde como um meio para poder identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente.

             Assim como o coração está no centro da vida, e dele procedem “as fontes da vida”, assim também é importante a saúde, para a vida, para uma vida produtiva, para uma vida que se utiliza do trabalho, do trabalho como meio de vida, e não como fim (finalidade), nem como meio de morte. Não tudo, mas muito disto está nas nossas mãos, princípio basilar da “Promoção da Saúde”. Mais ainda, da “Promoção da Saúde no Trabalho”. Daí o conceito de “trabalho saudável”, favorecedor da saúde, favorecedor da vida, favorecedor do coração, em todas as suas dimensões.

            É com esta visão que convido os leitores a lerem e estudarem os 20 capítulos deste livro, até porque, pelo que conheço de seu autor, ele escreveu o livro com esta visão, não teórica de cardiologista ou médico do trabalho, mas de gente como a gente.

            Costumo dizer brincando, mas seriamente, que, graças a Deus em primeiro lugar, e ao Dr. Julizar Dantas – meu cardiologista – em segundo lugar, meu coração continua batendo até hoje (pelo menos não me avisaram em contrário...), e apesar de muita pressão, e de ser um hipertenso há muitos anos, minha pressão arterial está controlada. Escrever este prefácio é o mínimo que posso fazer ao querido amigo Julizar Dantas, enquanto meu coração insiste em bater.

            Parabéns ao autor! Parabéns aos leitores, pois farão uma excelente leitura. Certamente poderão viver mais e melhor, sobretudo se forem às “fontes da vida”, em todas as suas dimensões, e que simbolicamente estão sediadas no coração.

            Por último, a palavra de duas mulheres bem conhecidas no mundo das letras: “A vida só é possível, reinventada” (Cecília Meirelles, em Vaga Música); “com o perdão da palavra, quero cair na vida” (Adélia Prado, em Terra de Santa Cruz). Vale a pena tentar!

 

Belo Horizonte, junho de 2007.

René Mendes

Professor Titular do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (aposentado)

Ex-Presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho – ANAMT (2001-2007).