Julizar Dantas

Quero uma vida  

difícil de se encontrar  

que seja diferente

     bela, caliente, guerreira, dócil e fagueira

e que seja suave, sorrateira

tal brisa acariciando o mar.

 

            A Organização Mundial da Saúde define a Qualidade da Vida como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.1

            A Qualidade da Vida abrange variadas condições que podem afetar a vida das pessoas, incluindo a sua condição de saúde. Qualidade da Vida refere-se a uma visão mais holística e humanística das relações entre as pessoas e o mundo que as cerca no sentido de valorizar parâmetros mais amplos que a prevenção das doenças, o controle de sintomas, o aumento da expectativa de vida ou a diminuição da mortalidade. A qualidade da vida estrutura-se em quatro domínios: Físico, Psicológico, Relações sociais e Meio ambiente (Figura 9).1

            Conceituar e avaliar a qualidade da vida é uma tarefa complexa e difícil. A organização Mundial de Saúde criou um grupo com esse objetivo. O produto dos estudos e discussões foi o desenvolvimento de um instrumento de avaliação denominado “WHOQOL-100” (World Health Organization – Quality of Life), uma versão completa composta de quatro questões gerais e 24 facetas distribuídas nos quatro domínios. Cada faceta é avaliada a partir de quatro questões. Uma versão simplificada, o “WHOQOL-bref”, consta de 26 questões, sendo duas questões gerais de qualidade da vida e as demais 24 representam cada uma das 24 facetas dos quatro domínios que compõem o questionário. No “WHOQOL-bref”, cada faceta é avaliada por apenas uma questão. Os dados que deram origem à versão abreviada foram extraídos do teste de campo de 20 centros em 18 países diferentes.2

            Figura 9 – Qualidade da vida.

            Índice de Desenvolvimento Humano - IDH

            O desenvolvimento humano apresenta estreita relação com a qualidade da vida. Implica propiciar que as pessoas realizem as suas aspirações e desenvolvam todo o seu potencial como seres humanos. O IDH parte do pressuposto de que para aferir o avanço de uma população não se deve considerar apenas a dimensão econômica. Outras características sociais, culturais e políticas também influenciam a qualidade da vida. Criado por Mahbub ul Haq, contou com a colaboração do economista indiano Amartya Sem, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998.

            O IDH foi idealizado para ser uma medida geral que sintetiza os diversos índices do desenvolvimento humano. É publicado em dezenas de idiomas e em mais de cem países. Reflete os progressos registrados em três dimensões básicas do desenvolvimento humano.

  • Uma vida longa e saudável (saúde) é medida pela expectativa de vida;
  • O acesso ao conhecimento (educação) é medido por: i) média de anos de educação de adultos, que é o número médio de anos de educação recebidos durante a vida por pessoas a partir de 25 anos; e ii) a expectativa de anos de escolaridade para crianças na idade de iniciar a vida escolar, que é o número total de anos de escolaridade que um criança na idade de iniciar a vida escolar pode esperar receber se os padrões prevalecentes de taxas de matrículas específicas por idade permanecerem os mesmos durante a vida da criança;
  • E o padrão de vida (renda) é medido pela Renda Nacional Bruta (RNB) per capita expressa em poder de paridade de compra (PPP) constante, em dólar, tendo 2005 como ano de referência.

            Apesar de ter sido publicado pela primeira vez em 1990, o índice foi recalculado para os anos anteriores, a partir de 1975. Aos poucos, o IDH tornou-se referência mundial. É um índice-chave dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas e, no Brasil, tem sido utilizado pelo governo federal, estadual e municipal.

            O Índice de Desenvolvimento Humano varia de zero a um. As classificações do IDH são relativas, baseadas nos quartis da distribuição do IDH pelos países e indicam um IDH muito alto, alto, médio e baixo. Como estão incluídos 187 países, os grupos de IDH muito alto e baixo têm 46 países cada, enquanto que o grupo de IDH alto tem 47 países e o grupo de IDH médio tem 48 países.

            O IDH se classifica em:

  • 1° Quartil: Muito Alto Desenvolvimento Humano
  • 2° Quartil: Alto Desenvolvimento Humano
  • 3° Quartil: Médio Desenvolvimento Humano 
  • 4° Quartil: Baixo Desenvolvimento Humano 

            O IDH pode ser consultado no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, um banco de dados eletrônico com informações socioeconômicas sobre os 5.565 municípios do país, os 26 Estados e o Distrito Federal. O Brasil ocupa o 79° lugar no ranking global com o IDH 0,744 em 2013.

Evolução do Brasil no ranking IDH global

            Gráfico - Expectativa de vida ao nascer em alguns países.4

            No Brasil, a expectativa de vida ao nascer dos brasileiros passou de 66,6 anos em 1991 para 73,9 anos em 2013, sendo a projeção para 2050 é de 80,7 anos (80 anos e 8 meses), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,

Gráfico 2 - Evolução da Esperança de vida ao nascer de ambos os sexos no Brasil – 1990 a 2012.5

            A Qualidade da Vida no Trabalho está relacionada às condições organizacionais, ambientais e psicossociais do mundo corporativo que afetam a vida das pessoas, influindo nas condições de saúde e bem-estar.

            O trabalho, para ser um agente promotor da saúde, deve atingir um significado especial para o ser humano que, através dele, se identifica perante os outros e a sociedade. 6

            Dias e Mendes (2002) criticam a excessiva ênfase dada ao estilo de vida dos indivíduos nos processos de Promoção da Saúde no Trabalho. Esclarecem que a empresa ou organização de trabalho saudável deve promover a melhoria contínua das condições de saúde e de vida para seus trabalhadores. Isto inclui a efetiva participação destes em todas as fases do processo produtivo, desde a concepção até a participação nos lucros gerados pela atividade. O trabalho saudável implica reconhecimento, avaliação e eliminação ou controle dos fatores de risco para a saúde de natureza ambiental, econômica, organizacional, psicossocial, biológica, coletivos ou individuais, visando ao bem-estar dos trabalhadores e da comunidade.7

            Figura 10 – Qualidade da Vida no Trabalho – QVT

            A qualidade de vida no trabalho inclui pelo menos seis dimensões: Física, Espiritual, Social, Profissional, Intelectual e Emocional.8

            Dimensão física

            As ações de promoção da qualidade de vida devem abordar os hábitos, comportamentos e estilo de vida saudáveis e seguros, fortalecendo os fatores de proteção e controlando os fatores de risco.

            Estilo de vida saudável é a escolha de conjunto de ações habituais que favorecem o bem-estar, a saúde e a melhoria da qualidade de vida. São bons exemplos, a adoção do estilo de vida ativo, a alimentação saudável e a qualidade do sono.

            Alimentação saudável que consiste em um padrão alimentar adequado às necessidades biológicas e sociais dos indivíduos e de acordo com as fases do curso da vida. As principais características são:

  • acessível (física e financeiramente);
  • saborosa;
  • variada;
  • colorida;
  • segura (higiene);
  • equilibrada (alimentos construtores, reguladores e energéticos).

              A atividade física estruturada com a prescrição de ritmo, duração, frequência e intensidade, alcança o estágio de exercício físico. A OMS recomenda o mínimo de 30 minutos diários de atividade física leve a moderada, pelo menos cinco vezes por semana.

            A qualidade do sono é um fator essencial na promoção e manutenção da qualidade de vida. Há evidências de que o sono insuficiente e de má qualidade aumenta o risco de doenças cardiovasculares, entre elas, a hipertensão arterial, a doença isquêmica, o acidente vascular cerebral, a insuficiência cardíaca, a fibrilação atrial e a morte súbita de origem cardíaca.

          Dimensão espiritual

  • Ética
  • Valores
  • Espiritualidade
  • Fé, Esperança

             Dimensão social

  • Família, amigos
  • Relacionamento
  • Equilíbrio econômico
  • Meio ambiente
  • Cidadania
  • Lazer
  • Segurança
  • Mobilidade urbana

            Dimensão profissional

  • Ambientes e Organização do trabalho saudáveis
  • Significado do trabalho
  • Aspectos psicossociais do trabalho 
    • Demandas psicológicas
    • Controle sob o próprio trabalho
    • Suporte social no trabalho
      • Suporte da gerência e supervisão
      • Suporte dos colegas de trabalho (espírito de equipe)
      • Suporte material

            Dimensão intelectual

  • Desenvolvimento do potencial
  • Compartilhamento do conhecimento
  • Exercício da criatividade

            Dimensão emocional

  • Autoestima
  • Sexualidade
  • Emoções tóxicas
  • As palavras mágicas:   Otimismo;   Reconhecimento; Amizade;   Serenidade...

            Nos próximos capítulos trataremos da intervenção sobre os principais aspectos e dimensões psicossociais, organizacionais e individuais, que se apresentam como determinantes da saúde e qualidade da vida no trabalho. São fatores emergentes no processo de construção social dessa nova realidade que vivemos no mundo corporativo.


REFERÊNCIAS:

1. THE WHOQOL GROUP 1995. The World Health Organization quality of life assessment (WHOQOL): position paper from the World Health Organization. Social Science and Medicine, Leicester, n.10, p.403-1409, 1995.

2. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Programa de Saúde Mental. WHOQOL – ABREVIADO. Versão em Português. Disponível em: < http://www.ufrgs.br/psiquiatria/psiq/breve.PDF >   Acesso em: 12 jul. 2014.  

3. BRASIL. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Relatório do Desenvolvimento Humano, Brasil, 2006. Disponível em: http://www.pnud.org.br/rdh/ Acesso em: 02 mai. 2007.

4. WORLD HEALTH ORGANIZATION. World health statistics, 2013. Disponível em:                     < http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/81965/1/9789241564588_eng.pdf?ua=1> Acesso em: 01 abr. 2014.

5. BRASIL, Ministério da Saúde. Indicadores e Dados Básicos - Brasil. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2012/matriz.htm Acesso em: 26 mar 2014.

6. MORIN, E. Os sentidos do trabalho. São Paulo: ERA, 2002.

7. DIAS, E.C.; MENDES, R. Contribuição à ampliação e operacionalização dos conceitos de promoção da saúde no trabalho e de locais de trabalho saudável para trabalhadores do setor informal. Belo Horizonte, 2002. 92 p. [mimeografado]

8. DA SILVA, M.A.D.; DE MARCHI, R. Saúde e Qualidade de vida no trabalho. São Paulo: Best Seller, 1997.