Julizar Dantas

Parada cardiorrespiratória ‒ PCR é definida como a interrupção súbita da atividade mecânica ventricular útil e suficiente e da respiração (Tabela 1). Caracteriza-se pela abrupta perda da consciência secundária à cessação do fluxo sanguíneo cerebral. A morte encefálica ocorre quando há lesão irreversível do tronco e do córtex cerebral, por injúria direta ou falta de oxigenação, por um tempo, em geral, superior a 4 minutos, em adultos, em condições de normotermia. Quando o evento inicial é a parada cardíaca, movimentos respiratórios podem persistir por um ou dois minutos. Na parada respiratória secundária à obstrução das vias aéreas por corpo estranho, a vítima apresenta cianose, podendo manter-se consciente e com batimentos cardíacos e pressão arterial preservados por alguns minutos. Nesse caso, a desobstrução das vias aéreas e o suporte ventilatório pode ser tudo o que o paciente necessita para se recuperar.

As principais causas de PCR em adultos são a doença coronariana (angina instável, infarto do miocárdio), as miocardiopatias (hipertóficas e dilatadas), a doença de Chagas, as lesões valvulares (estenose aórtica), as arritmias cardíacas (síndrome do intervalo QT longo, síndrome de Wolff-Parkinson-White com episódios de fibrilação atrial), as convulsões, as pneumopatias, a obstrução de vias aéreas, a depressão respiratória por overdose de drogas (cocaína, álcool) e medicamentos, hemorragia no sistema nervoso central e distúrbios hidro-eletrolíticos, entre outras (American Heart Association, 2005).

A PCR pode estar diretamente relacionada ao trabalho nos casos de intoxicação aguda e eletrocussão. Os acidentes provocados pela eletricidade constituem uma parcela importante entre os acidentes do trabalho, devido ao potencial de gravidade das queimaduras, das arritmias graves e de parada cardíaca. Os trabalhadores de alto risco são os eletricitários, os operadores de máquinas elétricas e os industriários.

A eletrocussão provoca alterações das miofibrilas, focos de necrose, lesões miocárdicas focais ou extensas, degeneração miocárdica, derrame pericárdico, com ou sem tamponamento cardíaco. A extensão das lesões é proporcional à intensidade e à duração da descarga elétrica, mas correntes de baixa voltagem (110V ou menos) podem, por si só, desencadear fibrilação ventricular e parada cardíaca.

Após uma eletrocussão podem ocorrer ectopias atriais e ventriculares, taquicardia sinusal, bradicardia, alterações do segmento ST, achatamento ou inversão da onda T, distúrbios da condução, isquemia miocárdica, infarto não Q, corrente de lesão, fibrilação ventricular, torsades de pointes, edema agudo dos pulmões, embolia cerebral ou pulmonar e parada cardíaca. Após a recuperação, a vítima deve ser observada com a monitorização do ritmo cardíaco durante o intervalo de 48 a 72 horas (Oliveira; Silva, 1998).

A parada cardiorrespiratória pode resultar da intoxicação grave por algumas substâncias tóxicas, dentre elas os solventes (Kaufman; Silverstein; Moure-Eraso, 1993), o monóxido de carbono e outros agentes potenciais causadores de arritmias cardíacas. Além disso, a PCR pode ocorrer no ambiente de trabalho, independentemente de estar ou não relacionada com ele. A equipe de Saúde Ocupacional deve estar preparada para o atendimento dessa emergência e deve treinar os trabalhadores nos procedimentos básicos de ressuscitação cardiorrespiratória durante o programa de treinamento em primeiros socorros.

 

Reanimação cardiopulmonar – RCP

As principais alterações promovidas pela revisão das diretrizes da reanimação cardiopulmonar da American Heart Association (AHA, 2005) dão ênfase à qualidade das compressões torácicas. A relação universal de 30:2 é recomendada para simplificar o treinamento, alcançar ótima frequência delas e reduzir as interrupções. Choque único é aplicado quando indicado, seguido imediatamente de RCP. Este choque deve ser de 120 a 200J, quando onda bifásica, ou de 360J, quando onda monofásica. Os socorristas nunca devem interromper as compressões torácicas para verificar o ritmo antes de terminar os 5 ciclos ou, aproximadamente, 2 minutos de RCP. Após este período, se um ritmo organizado estiver presente, o profissional de saúde deve observar o pulso.

Suporte básico de vida

O suporte básico de vida (SBV) consiste na oxigenação e na perfusão dos órgãos vitais, através de manobras simples e mantidas continuamente, a saber:

  1. Verificar a responsividade;
  2. Solicitar ajuda (desfibrilador e suporte avançado);
  3. Posicionar a vítima e se posicionar: em superfície rígida, em decúbito dorsal, com o socorrista posicionado à altura do ombro direito da vítima;
  4. Abrir as vias aéreas;
  5. Ventilar: deve-se proceder a duas ventilações de resgate;
  6. Avaliação do pulso (somente para profissionais de saúde): em um intervalo de 5 a 10 segundos, através da palpação da artéria carótida;
  7. Compressões torácicas: devem ser feitas em uma velocidade ideal de 100 vezes por minuto. A relação compressões e ventilações deve ser de 30:2. É necessário deixar que o tórax seja deprimido de 4 a 5 cm e que volte completamente à sua posição de repouso após cada compressão.
  8. Desfibrilação: deve ser executada imediatamente caso seja detectada fibrilação ou taquicardia ventricular sem pulso (FV/TV). A exceção é permitida nos casos em que o paciente permaneceu em PCR por um tempo maior do que 4 a 5 minutos, sem suporte básico de vida, quando, então, 5 ciclos de compressão e ventilação, antecedendo a desfibrilação, são opcionais. A corrente usada deve ser preferencialmente bifásica (de 120 a 200J), mas se aceita a monofásica (360J). Após a administração do choque, deve-se imediatamente retomar as compressões torácicas e ventilações, sem verificar o pulso.

Suporte avançado de vida

O Suporte Avançado de Vida (SAV) requer a capacitação da equipe médica em Advanced Cardiac Life Support (ACLS) e consiste nos seguintes passos:

  1. Intubação traqueal;
  2. Avaliação e fixação da cânula;
  3. Acesso venoso e monitoração;
  4. Administração de fármacos: todos os fármacos a serem administrados na PCR devem, obrigatoriamente, ser seguidos de 20mL de bolus de fluido e da elevação do membro por um intervalo de10 a 20 segundos. O primeiro fármaco a ser administrado é a adrenalina (1mg), por via venosa. Ela deverá ser repetida a cada lapso de tempo de 3 a 5 minutos. A diretriz da American Heart Association enfatiza a importância da administração dos fármacos, respeitando-se os intervalos pré-estabelecidos, independentemente do momento em que se encontra a RCP.